Dizer que 17 de maio é dia contra LGBTIfobia é apagar homossexuais

Em 1990, foi a homossexualidade que deixou de ser doença. Não tratar a data como vitória de gays e lésbicas é desrespeito

Publicado em 09/05/2021
17 de maio dia internacional contra homofobia
17 de maio de 1990 é data com relação à homossexualidade. Foto: Depositphotos 

Welton Trindade

Falemos de Jean-Paul Sartre. Falemos de uma das bases do existencialismo, no qual o francês é um dos nomes destacados. Apreendamos a ideia de que, na busca para saber para que nascemos, devamos pensar profundamente sobre todas nossas escolhas para, enfim, não viver sem rumo. Sem crenças. Sem, resume-se, existência. 

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Todas escolhas!? Sim, até a na linguagem, que carrega sentidos para além da gramática. Movimento negro fala disso ao rejeitar as palavras preto ou negro ligadas a coisas ruins. Travestis reivindicam o tratamento no gênero a que pertencem. Índi... Alto lá, indígenas é o correto! 

Você reconhece como legítimas tais lutas até nas letras e fonemas? Se sim, então você vai - ou precisa - entender que chamar o 17 de Maio de Dia Internacional contra LGBTIfobia (dentre outras variantes) é você se contradizer profundamente! 

Razão maior está no fato de a data ser nada menos que um dos maiores marcos históricos mundiais da luta de homossexuais!

Denominar essa data por qualquer corruptela que não Dia Internacional contra Homofobia é, não se engane, apagamento daquela luta e dessa vitória! 

O fato é cristalino: em 17 de maio de 1990, um dos maiores gritos de gays e lésbicas de todo o mundo foi ouvido. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tirou do Código Internacional de Doenças (CID) a homossexualidade, que passou a não ser considerada distúrbio mental.

Quanto à bissexualidade, é travar conversas com o segmento para saber qual a relação de sua identidade com a decisão da OMS. 

De toda forma, a data trata de orientação sexual! Nada além disso! 

Se você rejeita a palavra homossexualismo (sufixo aqui característico de doença) e exige que o nome seja homossexualidade, por que então você mesmo apaga (ou aceita que apaguem) o dia em que tal vitória foi obtida e tudo o que ela simboliza? 

Ir em outro caminho é insistir em erro que diminui até a dor e a trajetória de outrem.

Para o movimento trans, por exemplo, que faz cada vez mais voos solos, 17 maio de 1990 não foi dia de tanto o que celebrar. 

Apenas em 18 de junho de 2018, a OMS fez em relação à transexualidade e a travestilidade o mesmo movimento de 28 anos antes sobre gays e lésbicas. 

Esse fato não faz do 18 de junho algo como Dia Mundial da Luta contra Discriminação contra LGBT! Não! Essa data é do segmento trans! E deve merecer respeito, o mesmo que o 17 de maio merece. 

Homossexuais têm direito sim a suas datas, a sua história, a seus marcos, a seus heróis e heroínas, a seus símbolos e ao orgulho próprio! 

Tal como outros movimentos identitários fazem, corrija quando quiserem apagar sua identidade e o que a forma (e até a possibilita).

E se você se flagrar sendo agente desse apagamento, o verbo é reflexivo: corrija-se!

Não deixe que o inferno seja nós mesmos! 


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