Intérprete do muso gay Tadzio é tema de documentário angustiante

'O Garoto Mais Bonito do Mundo' fala de Björn Andrésen e de como a beleza se desfaz

Publicado em 25/10/2021
Bjorn Andresen: filme fala do ator de Tadzio, muso gay de Morte em Veneza
Ator foi objeto de desejo revelado pelo longa Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti

Por Marcio Claesen

Poucos personagens do cinema podem ser considerados um muso gay na mesma proporção que Tadzio, o jovem objeto de desejo de Morte em Veneza (1971).

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E é sobre seu intérprete, Björn Andrésen, que se debruça O Garoto Mais Bonito do Mundo, destaque na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

No documentário de Kristian Petri e Kristina Lindström somos praticamente coagidos a investigar cada marca de expressão no rosto de Andrésen e procurar o viço e a perfeição que encantaram o mundo 50 anos atrás.

Não são os cineastas que impõem tal tarefa ingrata, mas sim a vida ou a dificuldade que muitos de nós temos de lidar com a passagem do tempo.

E o tempo não foi camarada com o ator. A produção mostra que a vida de Andrésen, fumante inveterado, esquálido e taciturno, faz dele agora o oposto da beleza que o tornou famoso.

Para muitos, é quase como estar diante de um Retrato de Dorian Gray: afinal, Andrésen teve poucas participações no cinema e na TV de lá para cá. A sua imagem que consolidou na memória do público é aquela com 15 anos de idade.

O filme começa com a busca de Luchino Visconti por parte da Europa pelo garoto ideal que iria povoar a imaginação de Gustav von Aschenbach (Dirk Bogarde) em sua adaptação paras as telas do romance de Thomas Mann.

É na Suécia que ele encontra Andrésen, um pouco mais velho do que a média de idade que ele buscava e levado aos testes pela avó, que queria ter um neto famoso.

O menino o cativa imediatamente e o diretor sabe que sua procura incessante chegou ao fim. Desconcertado, o adolescente é induzido a ficar de cueca no teste de câmera, algo impensável em tempos atuais.

Assumidamente gay e rodeado por gays na equipe, Visconti avisa a todos, segundo Andrésen, que não se aproximem do garoto - de preferência, que evitem até olhá-lo.

Filme pronto, o "circo" de divulgação é armado e as preocupações com o jovem se diluem. Ele vai à primeira boate gay na vida e é jogado a um ritmo de entrevistas e viagens descontrolado.

Preso a um contrato de três anos, Andrésen tem sua saúde mental testada em uma temporada no Japão, onde se torna um dos primeiros ídolos ocidentais a frequentar a mídia local.

Seria preciso muita estrutura emocional e familiar para dar conta de uma fama repentina e mundial como essa. Mas ele não tem.

Em Paris, passa ser bancado por homens mais velhos que o exibem como um troféu - ter o passe de Tadzio é símbolo de poder.

Sem pai e com uma história violenta em torno da mãe, Andrésen constrói sua própria família desfuncional.

Petri e Lindström o levam a viagens para esmiuçar seus fantasmas e se reconectar com partes de sua vida.

A proposta dos cineastas é difícil. Andrésen não é um tipo que cativa. Ao contrário. Ainda assim, o longa é uma experiência intrigante sobre velhice, escolhas, apoio familiar e a dificuldade de lidar com traumas do passado.

O Garoto Mais Bonito do Mundo tem sessões presenciais em São Paulo em 29/10 às 19h40 no Cine Marquise - Sala Globoplay 1 e em 31/10 às 17h45 no Cinesesc. O filme também pode ser visto em todo o Brasil de forma on-line até 3 de novembro pela Mostra Play.

 

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