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Bissexual e único vereador LGBT de BH, Gabriel mira reeleição

Perguntado sobre o que fez para LGBT no atual mandato, parlamentar cita diversas ações

Publicado em 14/11/2020
Vereador bissexual Gabriel Azevedo tenta reeleição em Belo Horizonte
Candidato afirma que bissexualidade precisa ser mais compreendida e relata hoje ser inspiração para pessoas bi

Gabriel (Patriota) fez história ao se tornar a primeira pessoa LGBT assumida a conseguir o cargo de vereador em BH. E ainda é um dos poucos do Brasil a ter essa conquista. 

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Seu empenho agora é continuar essa trajetória. Para isso é candidato à reeleição. Nessa entrevista, o político fala do que fez por LGBT e o que há mais a ser feito tanto pelo segmento quanto para toda população da capital. 

Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris de BH?
Ter entre os 41 parlamentares de Belo Horizonte, um homem cisgênero bissexual é sinal de representatividade. Todavia, isso não basta. É preciso ter compromisso com a parcela LGBT+ da sociedade.

Creio que a melhor forma de fazer isso é fiscalizar o dinheiro público para saber se o recurso que todos pagamos está sendo bem utilizado na forma de políticas públicas.

A ideia-síntese da minha campanha é uma "Belo Horizonte inteligente", uma ferramenta digital onde a sociedade vai me ajudar a ficar de olho no orçamento.

E quero ter um grupo de trabalho LGBT+ para conferir quanto do nosso dinheiro é usado para nós nas principais pautas que importam.

Isso é uma maneira sólida de cumprir uma das principais funções de um vereador: fiscalizar.

Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Patriota. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Na minha percepção, todos deveríamos ter o direito de sermos candidatos sem partido.

Defendo as candidaturas independentes, que já existem em mais de 90% das nações do planeta. Como ainda não é uma possibilidade, me abriguei, com uma cláusula de independência, nessa legenda.

O cenário partidário brasileiro é disforme. Uma legenda no nível municipal pode ser apenas uma sigla que não encontra em seus membros sintonia com o estatuto. Assim é a "realpolitik".

Em 2016, me abriguei no PHS, que também me garantiu a mesma independência. Consegui atuar de acordo com os meus princípios e com a pauta LGBT+. Naquela eleição, amarrei um conjunto de ideias numa meta que nomeei "BH 100% sem preconceito".

A minha atuação, como deixarei exposta adiante, foi pautada por defesa dos interesses da pauta LGBT+.

Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas a população de BH?
Alem da ideia-síntese que citei acima, nomeada "Belo Horizonte inteligente", há cinco eixos. Um deles é o mandato compartilhado regionalizado.

Trata-se de capacitar anualmente nove pessoas eleitas através do aplicativo de mandato, uma por cada regional de Belo Horizonte, por alternância de gênero, para exercer a função de covereança no gabinete, com o propósito de fomentar a colaboração entre cidadãos e identificar potencialidades locais, além de criar uma escola local que prepare futuros candidatos que disputarão uma cadeira na Câmara Municipal.

Outro é o desenvolvimento econômico, que é integrar um conselho de desenvolvimento econômico com sete pessoas para encontros trimestrais com um convidado e uma proposta de empreitada trimestral para aprimorar a economia de Belo Horizonte através do mandato parlamentar.

O terceiro eixo é o desenvolvimento social: atuar para promover uma sociedade que adquira melhores condições de vida de maneira sustentável, através da desburocratização de projetos e atuação pela fiscalização do uso dos recursos públicos no que é prioritário para a habitação, pessoas em situação de rua e erradicação da pobreza, dialogando com o público alvo.

Você é uma das poucas pessoas LGBT assumidas em uma câmara municipal de capitais no Brasil. Como é essa experiência?
Há uma invisibilidade da bissexualidade. As pessoas, em geral, compreendem mais a heterossexualidade e a homossexualidade. E tendem a querer encaixar os indivíduos em uma dessas duas orientações.

Sou um homem bissexual cisgênero e sei que não há tantos outros assim na representação política. Idem na mídia.

Não acho que essa característica deva ser o único motivo pelo qual alguém deva conferir seu voto, mas acho definitivamente que a sexualidade não pode ser a razão pela qual alguém deixe de votar em alguma candidatura. É importante combater o preconceito e desenvolver a diversidade em todos os ambientes da sociedade.

Quando eu namorei uma mulher, usei as mídias sociais para compartilhar a minha felicidade. Quando eu namorei um homem, usei as mídias sociais para compartilhar a minha felicidade. Fiquei muito feliz ao receber comentários sempre repletos de positividade em ambos os momentos. É a natureza humana.

Hoje, estou solteiro. E me sinto atraído por ambos os gêneros. Não há preferência. E as pessoas deveriam entender cada vez mais a bissexualidade.

Nunca senti o preconceito. Sei que ele existe. As pessoas tendem a relacionar a bissexualidade com certa "luxúria". E, sabemos, o desejo sexual exacerbado não é exclusividade de uma orientação.

Também há quem pense que há necessariamente uma preferência por algum gênero, considerando tais pessoas sem uma resolução.

No meu caso, na verdade, recebi muitas mensagens carinhosas sobre isso, além de ler inúmeros relatos de pessoas que se sentiram motivadas a se abrirem para suas famílias pela minha postura. Isso é reconfortante. Isso é libertador.

Sobretudo em Belo Horizonte, onde sou vereador, recebi muitas histórias de casais que passaram a se amar mais por revelarem entre si.

Homens disseram a suas cônjuges que eram bissexuais. Mulheres disseram aos seus cônjuges que eram bissexuais. E vários guardaram esse segredo por temer que o relacionamento terminaria.

O ano é 2020. Precisamos deixar de lado a hipocrisia, conscientizar as pessoas diante das diversas orientações sexuais e, sobretudo, viver com felicidade. Ninguém consegue ser feliz por completo escondendo algo tão presente na própria vida.

Mesmo sendo bissexual, seu mandato não foi marcado por ações públicas ligadas à cidadania LGBT. Acha que poderia ter feito mais? Pretende mudar algo a esse respeito caso se reeleja?
Permitam-me discordar da afirmação que meu mandato não foi marcado por ações públicas ligadas à cidadania LGBT+.

Talvez, a pouca visibilidade que o assunto tem na imprensa não tenha permitido que as ações fossem de amplo conhecimento. Todavia, postei tudo nas minhas mídias sociais. Pode existir até parlamentares que tenham feito o mesmo que eu fiz no âmbito da Câmara Municipal. Mais não. E listo...

Ser um político liberal significa defender a liberdade por inteiro, inclusive a liberdade sexual. Erguia a bandeira bi (que ainda conta com certa invisibilidade inclusive no âmbito LGBT+) há um ano na parada do orgulho LGBT+ em Belo Horizonte.

Ainda que exista gente que pense o contrário, é impossível impedir que as diversas orientações sexuais se manifestem. Essa é mais uma das condições da natureza humana.

Em 2016, na minha campanha eleitoral, entre as 31 ideias, prometi uma "Belo Horizonte 100% sem preconceito". Está registrado e agi nesse sentido.

Ainda que eu não fosse um homem bissexual, essa pauta seria importante para mim. Essa é uma causa humana. Além de participar de todas as paradas de orgulho LGBTQ+ em Belo Horizonte, o mandato foi instrumento do que a candidatura propôs.

Aliás, nos eventos na Praça da Estação estive com outros vereadores. Sempre discursa quem é convidado a fazê-lo. O bloco "Alô, Abacaxi" me convidou e discursei num trio elétrico na parada. Postei nas mídias sociais.

Recebi inúmeras entidades representativas dessa parcela da população. Na votação da Reforma Administrativa, fui um dos oito parlamentares que votou a favor da criação do Conselho Municipal LGBT+ (sem custos) contra 31 parlamentares que votaram contra.

Realizei com colegas o seminário para estudar e debater coletivamente as políticas e ações municipais voltadas para a população LGBT+.

Sugeri a reestruturação participativa do Centro de Referência pelos Direitos Humanos e Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais - LGBT+ de Belo Horizonte e sugeri que fosse efetivada recomendação a educadores(as) e servidores(as) da secretaria, das escolas e das bibliotecas municipais, em todos os níveis de ensino, contendo a necessidade de se respeitar e de se utilizar o nome social de travestis e transexuais, em respeito à identidade de gênero da população LGBT+.

Sugeri a implementação de editais específicos que atendam a diversidade da expressão artístico-cultural da população LGBT+. Sugeri que os órgãos de segurança pública procedam à coleta e a à sistematização dos dados relativos à violência contra a população LGBT+.

Sugeri a inclusão de representantes do Movimento LGBT+ de nossa cidade, em especial da população T (travestis, transexuais e homens trans), ao grupo de trabalho instituído a partir da Portaria SMAAS nº 003/2017, que visa regular e reordenar os serviços de proteção social, da assistência social, voltados para a população em situação de rua de Belo Horizonte.

AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay BH de entrevistar todas candidaturas LGBT à Câmara Municipal de BH.

Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.

Acompanhe todas as entrevistas e reportagens sobre as eleições na editoria Eleições 2020 clicando aqui.


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