Lésbica que não fica com trans é transfóbica? Veja polêmica

Publicação integra a revista Lésbi, site de MG para mulheres bi e homo. Dentre leitoras, há crítica e concordância

Publicado em 22/06/2020
lesbicas travestis
Avaliações do artigo: para uma leitora, algo didático. Para outra, silenciamento de homossexuais femininas

No mês do orguho LGBT, a Revista Lésbi está no centro de polêmica causada por artigo que trata como evidência de transfobia o fato de haver lésbicas que não têm relações sexuais e amorosas com transexuais e travestis. Enquanto algumas leitoras concordam, outras querem até o encerramento do financiamento governamental da iniciativa.

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Intitulado "Deve uma lésbica cis se relacionar com uma travesti?", o texto é assinado por Alicia Moreira, que se define como "trava bióloga". 

Já no primeiro parágrafo, o artigo muda a definição de lésbicas e trata como problemático o fato de haver homossexuais femininas que não fazem sexo com mulheres trans. 

"Ser sapatão é ser mulher e gostar de outras mulheres. Isso, com certeza, é um ponto pacífico e comum para todas nós. O problema é que algumas lésbicas cis se recusam a relacionar-se com mulheres trans por causa de seus genitais. Costumo chamar essas pessoas de 'genitalésbicas'."

A autora insiste na mudança de denominação. Para ela, uma homossexual que afirma só gostar de vulva não seria lésbica. "Se buceta for parâmetro de atração, essas mulheres genitalésbicas sequer são lésbicas e, sim, bi ou pansexuais, no mínimo."

A argumentação continua ao ela afirmar que gostos particulares são construídos dentro de uma sociedade transfóbica. 

Dentre leitoras, houve divisão de opiniões e até campanha para a revista perder financiamento da Prefeitura de Belo Horizonte. 

Disse uma: "Achei o texto muito didático, mostrando as origens de certas 'preferências' que acabam sendo transfóbicas. Não obriga ninguém a se relacionar com quem não quiser.”

Outra, entretanto, vai em sentido oposto. "Honestamente?? Ridículo, infundado, ofensivo! Nós lésbicas já somos silenciadas o tempo inteiro e ainda temos que engolir gente de fora nos ensinando o que é ser lésbica?"

A usuária do Twitter @_cellefonseca, que se coloca como integrante da Caminhada de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de BH, incentiva que a prefeitura tire a verba dada à Revista Lésbi e pede que a postura do site seja denunciada. 

 

Em nota de 21 de junho, a publicação se pronunciou acerca da polêmica e reafirmou que continuará a dar espaço para artigos tais como o de Alicia Moreira.  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

A Lésbi é um projeto realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte produzido e voltado para mulheres lésbicas e bissexuais, sejam elas cisgêneros ou transgêneros. A revista prioriza o debate acerca das demandas de mulheres que se relacionam com mulheres de forma interseccional, buscando contemplar múltiplos debates desse universo. ? O feminismo, em suas muitas vertentes, historicamente invisibilizou mulheres negras, lésbicas e bissexuais. Apesar dos avanços, a luta por visibilidade permanece presente, assim como a inserção de mulheres trans na agenda do movimento feminista. Nós da revista Lésbi defendemos um feminismo que seja antirracista, trans inclusivo e que paute a visibilidade e legitimidade de todas nós, mulheres lésbicas e bissexuais. ? Ao convidar Alicia Moreira para colaborar com a revista, a proposta foi dar visibilidade para as mulheres trans. Entretanto, o texto da autora provocou alguns embates. Esta nota é uma resposta às pessoas que buscavam diálogo conosco e que se sentiram silenciadas. ? ? Desativamos os comentários da postagem no Instagram porque nossa primeira preocupação foi evitar que ataques transfóbicos continuassem acontecendo contra a autora e não como uma forma de silenciar mulheres lésbicas e bissexuais. ? A organização da Lésbi é composta por mulheres lésbicas e bissexuais, cisgêneras, negras e brancas. Consideramos o texto questionador das lógicas hegemônicas que nos organizam, a cisgeneridade e a heteronomatividade, e não um ataque à lesbianidade. Sentimos muito que o texto foi lido dessa forma. ? Informamos que todos os comentários estão sendo lidos e analisados e nossa equipe já está em reunião para pensar em ações que fomentem o diálogo de forma saudável e respeitosa. Nos colocamos à disposição para construirmos juntas um debate amplo e plural, de forma que não silencie nenhuma existência, e abertas para pensarmos conjuntamente uma revista que acolha mulheres (cis e trans) lésbicas e bissexuais.

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