Veja como foi a primeira parada LGBT do Brasil, feita há 20 anos

Ato encerrou a 17ª Convenção Mundial da ILGA, no Rio de Janeiro

Publicado em 27/06/2015
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Uma das marcas do ato, feito em Copacabana, foi a bandeira do arco-íris de 125 x 10 metros (Foto: acervo Beto de Jesus)

Vinte e cinco anos depois da primeira parada do orgulho LGBT do mundo - realizada em Nova York, em 1970 -, um pais tropical dava, literalmente, seus primeiros passos em um ato específico para contrapor, com atitude afirmativa, a discriminação. O lugar é o Rio de Janeiro, mais precisamente o bairro de Copacabana. E o Brasil tinha sua primeira parada do orgulho arco-íris, fato histórico que completa 20 anos em 2015.

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O ato, realizado no domingo 25 de junho de 1995, fez o encerramento de um marco: a 17ª Convenção Mundial da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (Ilga, em inglês), realizada, pela primeira vez, no Cone Sul. É o evento mais representativo e importante do ativismo chamado, atualmente, de LGBT. 

O nome da caminhada vinha em um pano verde com estrelas, onde lia-se Marcha pela Cidadania de Lésbicas, Gays e Travestis. Entretanto, a intransigência da prefeitura do Rio, sob administração de César Maia, forjou um outro abre-alas: uma frente de ativistas contra a repressão da guarda municipal, detalha um dos organizadores da convenção, o então ativista e atual coordenador do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento.

"De braços entrelaçados, cerca de 40 de nós fizemos uma linha para mostrar à segurança municipal que não recuaríamos e que a caminhada iria ser feita. Íamos abrindo o caminho, passo a passo."

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Beto de Jesus, de amarelo: "Primeira vez que lidamos com a palavra 'pride" (Foto: acervo Beto de Jesus)

Os gritos principais eram coordenados por um carro de som cedido por um sindicato. Exemplos: "Violência não. Mais amor e mais tesão" e "1, 2, 3, 4, 5 mil. Queremos a violência fora do Brasil". 

Quem lá estava: "Galera leather, bissexuais da Austrália, gente de vários lugares do mundo e do Brasil. Esse foi nosso início", recorda Nascimento. O número de participantes foi estimado em 3 mil, com cerca de 1.500 integrantes da convenção, vindos de 40 países. "As línguas, eram várias", lembra o ativista Beto de Jesus, presente devidamente travestido.

As maiores preocupações do movimento na época eram a aprovação da união civil e a criminalização da homofobia, idéias que se transformariam em projetos de lei encampados pela deputada federal Marta Suplicy (PT-SP). Já as travestis entoavam o reconhecimento do nome social. Em tempo: das três demandas, só a primeira se concretizou no Brasil até agora, 20 anos depois. 

Não é por acaso o tratamento como primeira parada do orgulho LGBT do Brasil, apesar de não ter recebido esse nome. "Nunca tínhamos lidado no Brasil com a dimensão da palavra pride (orgulho). Foi nessa caminhada que passamos a fazer isso", explica Beto de Jesus, que oito anos mais tarde foi eleito direitor da Ilga para a América Latina. 

Nascimento deixa marcado outro fato inédito - e engraçado. "Pela primeira vez, o movimento organizado do Brasil empunhava a bandeira arco-íris e a assumia como símbolo maior. E lembro que pedimos a uma costureira para fazê-la. O tamanho era 'só' 124 por 10 metros. A senhora se assustou! Disse que a casa dela era pequena, que nem caberia e não saberia se daria conta. Pois deu tudo certo e foi um dos pontos altos da marcha: caminhar e tremular a bandeira."

Dois famosos chamaram atenção. Marina Lima juntou-se à marcha. Renato Russo foi um dos presidentes de honra da conferência, anota reportagem da Folha de São Paulo de 13 de junho de 1995. 

Se a marcha foi libertária paras as futuras gerações? Não só. De forma a proteger participantes que tinham medo de mostrar o rosto na mídia, foram confeccionadas milhares de máscaras de papel marchê. "Vários, vários mesmo, que começaram a andar com a máscara, iam tirando-a com o tempo... Foi algo incrível. Saía o medo! Por não se sentiram mais sozinhos, como muitos me falaram, eles jogavam a máscara fora." Que joguemos mais e mais! 


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